Resumo

Nos últimos anos, as plantas medicinais tem sido objeto de estudo não somente por suas propriedades antibacterianas, mas também por serem capazes de reverter mecanismos de resistência bacterianos, ao modularem a atividade de antibióticos. Nesse contexto, este trabalho buscou avaliar o potencial modulador in vitro dos extratos etanólicos de Punica granatum L. (Romã) e Schinus terebinthifolius R. (Aroeira) sobre as atividades de cefalotina (cefalosporina), amicacina e gentamicina (aminoglicosídeos), em cepa de Staphylococcus aureus meticilina-resistente (MRSA) de origem clínica. Os extratos e os antibióticos tiveram suas concentrações inibitórias mínimas (CIM) avaliadas através da técnica da microdiluição em placas, sendo em seguida realizada a junção dos antibióticos em concentrações que variaram de 1.024-0,5 µg/mL com os extratos, estes a uma concentração subinibitoria de 32 µg/mL. O efeito modulador foi identificado após a comparação das CIM dos antibióticos obtidas antes e após a adição dos extratos de P. granatum e S. terebinthifolius. As plantas modularam antagonicamente os efeitos da cefalotina (elevação da CIM desta de 32 para ≥ 1.024 µg/mL), e sinergicamente da gentamicina (diminuição da CIM de 256 para 128 µg/mL). Para a amicacina, observou-se um possível efeito sinérgico apenas com o extrato de P. granatum, que reduziu a CIM de 64 para 32 µg/mL, visto o extrato de S. terebinthifolius ter elevado significativamente a CIM deste antibiótico, de 64 para ≥ 1.024 µg/mL. O provável antagonismo das plantas ao efeito da cefalosporina é relativamente inesperado, visto diversos estudos apontarem que polifenóis, compostos presentes em ambas as plantas, modulam sinergicamente o efeito de antibióticos betalactâmicos. Em relação aos aminoglicosídeos, é conhecido o fato de que os micro-organismos são capazes de elaborar diferentes mecanismos de resistência a estes antibióticos, e o principal deles constitui-se na produção de enzimas que degradam tais antimicrobianos. Portanto, mesmo que o isolado clínico pertença à mesma espécie, este pode apresentar resposta de resistência diferenciada aos aminoglicosídeos, devido à variedade de enzimas modificadoras. Assim, os metabólitos secundários de P. granatum e S. terebinthifolius apresentaram-se promissores em modular a atividade antimicrobiana, em particular de aminoglicosídeos, sendo uma alternativa na redução da CIM necessária ao efeito terapêutico, sobretudo em infecções por micro-organismos resistentes a múltiplos fármacos.